terça-feira, 19 de julho de 2011

MEDO! A ditadura está de volta.



Atenção! Se você é estudante (ou ex-estudante) - se foi ou não do movimento estudantil, se é jornalista, advogado ou professor (ou está estudando para isso): republique esse texto, repasse o link, retuíte, curta, indique, ajude a denunciar o que acontece nos "porões" ainda existentes do século XXI, em meio a esta falsa liberdade.

A noite sem fim*

“Se vives nas sombras, freqüentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de dobermann…”
Chico Buarque, Hino a Duran

Ela estava na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Jequié. O celular da jovem estudante toca e aparece um número, até então, desconhecido. Ela atende mesmo assim, e o que se desenrola a partir daí, a surpreende e surpreenderia a qualquer um, e foi mais ou menos assim:
- Alo? Fulana de tal?
– Sim, Quem fala?
– Aqui é do Ministério Público. Estamos lhe comunicando que a Srta deve se apresentar urgentemente em nosso endereço a fim de responder certas questões …
– Me apresentar? Como assim? Porque? Para que? O que houve?
– Já o disse. Para prestar certos esclarecimentos…
– Me apresentar? Esclarecimentos? Mas… quando? Que dia?
– Agora.
– Agora? Mas como assim “agora?”
– Agora, AGORA…

Aturdida e meio sem entender bem do que se tratava, ou mesmo se sentindo intimidada, o que estava sendo, por lógica e de fato, acabou por acatar a “intimação telefônica” e disse que se deslocaria para lá, assim que o ônibus chegasse. Do outro lado da linha, o diálogo continuou, ainda mais surpreendente para ela e para quem seja…

- Não se preocupe. NÃO é preciso tomar ônibus algum. Neste momento, neste exato momento, enquanto estamos falando, há uma viatura, um carro da universidade lhe aguardando, próximo de onde a Srta. está, justamente para trazê-la até aqui. A Srta. inclusive, já o deve estar vendo, se não, basta olhar em “tal” direção. Virando o olhar à direção orientada, ela então o viu. Era de fato um veículo da universidade, ocupado por um motorista e um agente policial, que a levariam até a sede do Ministério Público de Jequié.

Lá chegando, adentrou sem cerimônias por parte do segurança na portaria, mesmo estando trajando um short de verão, uma curta bermuda, traje dado como inapropriado e impeditivo, por lei, a quem se apresente ao local e queira entrar. Não foi feita qualquer espécie de restrição ao fato, sendo diretamente encaminhada ao interior de certa sala. Lá, já a aguardava um formado corpo inquisitorial, que se intitulava o representante e defensor dos interesses do Estado e do bem público, enfim, da democracia, da ordem constituída, do povo. Foi argüida sobre a sua participação em “certo movimento estudantil” que ora se desenrolava. O tal movimento existia / existe e tinha / tem por mote o incentivo a um boicote sistemático e racional ao vestibular da UESB, uma vez que, livre pensamento do grupo, a instituição em questão há muito deixou de ser uma opção válida aos estudantes que buscem o caminho universitário, dadas as más condições de seu funcionamento, ao seu sucateamento paulatino por parte do Estado, por culpa do campo minado em que se tornara ou em que foi transformado, alvo de disputas político partidárias que a vem transformando, também, ou num trampolim político ou num imenso escritório de empregos apadrinhados, entre uma série de outras questões. Como ainda não estava a entender muito bem do que se tratava, do que estava sendo acusada de fato, certos papéis lhe foram mostrados, jogados, despejados à mesa, como “provas do seu crime”. As “provas”, lhes mostradas uma a uma, nada menos eram, do que as transcrições, os impressos de conversas travadas, dias, semanas, meses antes, entre ela e diversos outros estudantes, professores, de nomes participantes de discussões sobre o tema citado, o boicote ao vestibular da UESB. Nota: As dadas transcrições foram obtidas através da QUEBRA DO SIGILO DE SEUS COMUNICADOS PELA INTERNET, PELO ACESSO AOS SEUS E-MAILS PESSOAIS E ÀS MENSAGENS PRIVATIVAS POSTADAS POR MSN OU ORKUT. Tudo, lógica ou ilogicamente, conseguido sem qualquer tipo de RESPALDO JURIDICO.

A inquisição continuou por HORAS, SEM QUE LHE FOSSE PERMITIDO FALAR COM SEUS FAMILIARES, COM QUALQUER ADVOGADO, com NINGUÉM QUE FOSSE, a fim de situar externamente a sua situação. Durante todo o interrogatório, ficou INCOMUNICÁVEL, exatamente como ocorria aos interrogados/torturados durante os piores anos do regime militar no Brasil, nos porões do DOI-CODI. Interpelada foi por um tempo que, julgo eu, ter ela julgado como interminável. Acuada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, ali representada por sua Procuradoria Jurídica e pelo Estado, ali “representado” pelo Ministério Público de Jequié, “confessou” sua participação em tal ato vil, em tal movimento subversivo. Achou isso o mais prudente, antes que, penso eu, lhes trouxessem agulhas pontiagudas ou lâminas vivas para as unhas, alicates para os dedos, uma palmatória de aroeira para as mãos ou para as plantas dos pés ou, quem sabe, um par de fios com as pontas desencapadas…

Foi “instruída” a retornar aos seus e a desdizer, a desconstruir o discurso do movimento do qual participava. Cabia a ela, então, demover os demais “subversivos” da idéia de se continuar a boicotar o vestibular de tão honrosa instituição, sendo a defesa do vestibular, a defesa em si do interesse público, por si inatacável. Finalmente liberada, retornou à universidade e aos seus, mas…

Corajosamente, não acatou os “conselhos” de seus algozes. Em assembléia, ainda aturdida e naturalmente aterrorizada pelo que havia vivenciado, relatou o que se passara, buscou ajuda jurídica correspondente e então, devidamente instruída e agora amparada, a história vem à tona e é, resumidamente, o que descrevi aqui. Um adendo. Dias antes, os alunos da instituição que haviam se inscrito e sido selecionados para atuarem como fiscais do vestibular 2011.1, foram, por representante oficial da instituição, CORTADOS DO PROCESSO, justamente por fazerem parte da liderança do movimento estudantil, o que lhes foi dito, à cara, abertamente, dedo em riste, sem o menor pudor ou receio de se expor os motivos de tal decisão.

Embora possa parecer um roteiro de um filme com trama embasada numa “teoria da conspiração”, ou mesmo de um relato de algum diário desenterrado, de algum sobrevivente da ditadura militar no Brasil, nos idos de 68, tudo aqui descrito aconteceu DE FATO, e foi há poucos dias atrás, meados de junho de 2011, para o espanto e o nojo de cada um de nós.

Este relato está “no prelo”, em minha mente e no meu coração, já há dias, aguardando certo “bat sinal” para ser materializado. O Sinal verde, em si, seria a decisão pessoal da estudante, protagonista da história de terror acima, em relação a como se posicionar diante de tal fato. Naturalmente acuada, agredida em seus direitos constitucionais, coagida, amedrontada, teve de repensar sobre o que fazer? Se omitir? Calar? Se proteger, recuando? Não somente ela, mas também todos os demais participantes do movimento ao qual fazia e faz parte, pesaram os riscos, optaram por NÃO SE CALAR. E não se calaram. Hoje a história toma corpo, ganha o mundo, aos que queiram e aos que não queiram ouvi-la, dela saber. Não conheço a tal estudante, não faço parte do citado movimento, há anos não freqüento uma assembléia universitária. Mas ainda mantenho vivo o meu “coração de estudante”, como diria o poeta. E ele bate no compasso desta garota e destes outros que não recuaram diante do descalabro dessa falsa democracia, do rugir covarde desse Estado aberração, do cheiro fétido daquela era de ditadura, que ainda não morreu definitivamente, como pensam os mais ingênuos, ditadura que ainda paira sobre nós, disfarçadamente, como sombras de uma noite ainda sem fim.

Lanço esse texto, idiotamente aberto, dirão alguns, em apoio irrestrito aos combatentes dessa causa. E o faço abertamente, para poupar a certos chacais de plantão, o trabalho de escarafuncharem os meus arquivos eletrônicos. Coisa que acho, já o fazem há certo tempo, tanto os meus quanto, possivelmente, os de quem agora lê e concorda com este artigo. Se você é um deles, sorria, você, possivelmente, também está sendo vigiado. Bem vindo ao grupo.

*Por Josafá Santos - Historiador (josafasantos@yahoo.com.br)
Vit.da Conquista – BA 13.07.11



via: http://www.conversadebalcao.com.br/2011/07/professor-denuncia-violacao-dos.html

Um comentário:

  1. Eu e outro colega jornalista, Ailton Fernandes, repercutimos esta notícias em nossos blogs (respectivamente o www.nucleodenoticias.com.br e o http://www.conversadebalcao.com.br) e mais alguns blogs. A tal "grande mídia" de Conquista e Salvador nem "tchum".

    O mais revoltante, assustador e jocoso foi que a ÚNICA manifestação que tivemos em nossos blogs e contas do Twitter foram de 2 pessoas, dentre elas um estudante do curso de geografa da UESB de Conquista que chamou a mim e o colega de "irresponsáveis" por estarmos divulgando esta denúncia.

    Enviei cópia deste texto para o Min. Público de Salvador através da conta deles no Facebook. Acho que esse assunto não deveria morrer.Os estudantes de Jequié deveriam se manifestar.

    O que ocorreu, se ocorreu como relatado, foi muito grava e deve ser relatado à Comissão de Direitos Humanos.

    Estou a disposição,

    Caíque (contato@nucleodenoticias.com.br)

    Quem tiver mais informações pode me passar que mantenho o sigilo da fonte.

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